A livro desse mês é: "CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ENSINAR".
"Ponha de novo o livro na prateleira se você
está em busca de um discurso sério, científico.
Aí dentro você só encontrará conversas com
pessoas que gostam de ensinar. Pra conversar
é necessário gostar. Caso contrário, a coisa
viraria um monólogo: uma fala sem resposta.
Pelos livros de filosofia e ciência que você já
deve ter percebido que, via de regra, o que se
pretende é um discurso sem resposta. As
coisas são ditas de tal forma, com tais
precauções e notas de rodapé, que o leitor é
reduzido ao silêncio. Nada mais distante do
espírito da conversa. O que se pretende, aqui, é
tecer uma a dois, ou a três...
Aquele que começa oferece um tema, dá um
ponto, e passa a agulha ao outro... E assim a
coisa vai sendo feita, como tarefa de muitos. E
isto sem que se esqueça do humor e do riso,
sem os quais aparecem nós cegos que ninguém
consegue desatar." Rubem Alves
BOA LEITURA.
Versão em PFD aqui >> CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ENSINAR
Rubem Alves trás no livro duas coisas muito interessante para abordar o tema professor e educador, ele imprime sentimento no que fala e sobre o que fala, não deixando um viés crítico e importante de lado. Ele diferencia o professor do educador a partir de como este (pessoa) se vê ou age na profissão que exerce, o professor é preocupado com quantidades, números, com crédito, enquanto o educador preocupa-se em ensinar verdadeiramente, preocupa-se com o aluno, com o sistema em que está inserido e em melhorar seus métodos, sua didática, em ser entendido por todos os alunos de maneira a criar um laço afetivo com eles e com a própria profissão.
ResponderExcluirO autor fala várias vezes em seu texto que o educador é quem ama o que faz e por isso e pela maneira como age não se torna apenas mais uma ferramenta descartável do sistema. “...professores são entidades “descartáveis”, da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos plásticos de café descartáveis. De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções”.
Essa diferença entre professor e educador, segundo Rubem Alves tem seu início com o utilitarismo, onde a busca pela produção, pelo lucro e por dar função a tudo e a todos, foi-se perdendo o valor sentimental dado ao que se fazia e as próprias pessoas. “E isto se tornou tão arraigado que, quando alguém nos pergunta o que somos, respondemos inevitavelmente dizendo o que fazemos. Com esta revolução instaurou-se a possibilidade de se gerenciar e administrar a personalidade, pois que aquilo que se faz e se produz, a função, é passível de medição, controle, racionalização”. Sobre isso, acrescento ainda que no mundo acadêmico vê-se muito esse problema de atribuir função a tudo, ou melhor, tudo o que produz, ou pensa-se que se produz na universidade deve ser transformado em tecnologia, como se o conhecimento pelo conhecimento não bastasse. Busca-se número de publicações, o que faz o teor destas se perderem ou se quer serem citados.
Sobre pesquisas, Rubem Alves comenta sobre o método e a relevância da pesquisa, onde o segundo deve ser o primeiro quesito a ser pensado, ao pesquisar e buscar compreender um fenômeno ou resolver um problema o método pouco importa em primeiro plano (no campo das ideias) ele deve ser pensado como uma forma de tornar a pesquisa mais verídica possível.
Ao fim o autor nos coloca uma pergunta e comenta sobre ela: “Por que se tornar um educador? Esta pergunta parece, de saída, impertinente. Não há coisa mais nobre que educar. Sou educador porque sou apaixonado pelo homem. Desejo criar condições para que cada indivíduo atualize todas as suas potencialidades. A educação é a base de uma sociedade democrática. Vocês poderiam multiplicar afirmações semelhantes a estas indefinidamente. Embalados por estas doces canções acerca dos elevados propósitos da sua profissão, o educador pode continuar a educar sem maiores, problemas”.